terça-feira, 20 de setembro de 2011

Entrevista com Roberta Medina, a vice-presidente do Rock in Rio

Quando a primeira edição do Rock in Rio aconteceu em janeiro de 1985, Roberta Medina, filha do idealizador Roberto Medina, tinha apenas seis anos e as poucas lembranças que tem são de vídeos, como o que mostra trechos dos shows do Queen. Em 1991, o festival acontecia no estádio do Maracanã e Roberta aguardava ansiosa pelo show do New Kids On The Block, que hoje confessa ter sido um fiasco. Dez anos depois, ela já estava envolvida com o festival e, desde 2003, mora em Lisboa, em Portugal, onde cuida pessoalmente das edições em Lisboa e Madrid.

Eleita no início do ano, pela revista “Época”, uma das personalidades de 2010, Roberta Medina é formada em Comunicação Social, presidente da empresa Dream Factory e vice-presidente da Better World, ligada ao Rock in Rio, e cuida pessoalmente de todos os preparativos para essa nova edição do festival.

Na entrevista a seguir, ela comenta os diferenciais dessa nova edição do Rock in Rio, como estão sendo montados os esquemas de transporte e segurança para a Cidade do Rock e quais são as principais contribuições que o festival pretende deixar para a capital fluminense.

Yahoo! – No que essa edição do Rock in Rio se difere das outras três que tiveram no Brasil?
Roberta Medina – O Rock in Rio mudou muito nesses últimos dez anos que esteve fora do país em termos de proposta de entretenimento. Em 1985 e 1991, a gente tinha só um palco de música. Já tinha o conceito de Cidade do Rock em 1985, com shopping e área de alimentação, mas não mais do que isso. Em 1991, no Maracanã, foi a mesma coisa. Mas a proposta do Rock in Rio sempre foi muito mais uma motivação para pessoas de perfis diferentes estarem juntas e unidas pela música do que simplesmente assistir a shows. Então, em 2001, já ampliou o conceito e tinha o Palco Mundo, mais a Tenda Brasil, com shows de músicos brasileiros, a Tenda Raízes, com world music, a Eletrônica e a Tenda Mundo Melhor, com debates e palestras internacionais sobre o projeto social que nasceu naquele ano. Quando a gente foi para a Lisboa, começou a pensar num modelo que é praticamente transformar a Cidade do Rock num grande parque temático da música, que continua sendo o grande elo que une todas as atividades. Agora terá o Palco Mundo e o Sampler, que é um palco de encontros para 25 mil pessoas, mas intimista, para se ver dois talentos cantando juntos pela primeira vez. Tem também a tenda eletrônica, com cinco DJs por dia. A única diferença de lá para cá é que ela hoje é um espaço a céu aberto, com bailarinas dançando no alto. Tem uma grande diferença, que é a Rock Street, inspirada em New Orleans, com músicos de jazz, street band e artistas de rua, como cartomantes e sapateadores. Além disso, a gente tem montanha-russa, roda gigante e shopping com 28 lojas. A tenda vip virou um espaço único para quase mil convidados dos clientes e do mercado mais corporativo. Ela antes ocupava duas áreas separadas. Os patrocinadores passaram a fazer parte também do entretenimento e da dinâmica da própria cidade. Não é só exposição de marca. Cada um deles terá o próprio estande, que propõe interatividade com o público.

Yahoo! – Como será o esquema de transportes para o festival?
Roberta Medina – Em 2001, na área de transporte, apesar de ter sido programado um número muito maior de ônibus, as pessoas se misturavam com eles nas ruas. Então hoje a gente está fazendo um terminal rodoviário temporário, com capacidade para 30 ônibus em plataforma e que ficará em frente ao autódromo, onde pessoas e ônibus não se misturam e é tido como um modelo de maior segurança. Também utilizaremos o terminal Alvorada, que já existe. As linhas regulares saírão da Alvorada para a zona sul e zona oeste, e do Via Park, para a zona norte. Outra diferença no esquema do transporte é que só dá para chegar à Cidade de Rock de ônibus. Não tem acesso de carro. O táxi pára longe. Moto não tem. Tem as linhas regulares, que já passam por ali normalmente e que passam pelo terminal da Alvorada, que é na Barra da Tijuca e dali vai ter um ônibus de linha circular permanente indo para a Cidade do Rock. Também tem uma linha de ônibus especiais, como os frescões, com ar condicionado. É quase como um avião. Você marca a hora de saída e de retorno, e se perder o horário, tem que esperar para ter vaga no próximo. Eles vem direto, o que, para quem está acostumado a andar de carro, é uma forma muito mais segura e confortável.

Yahoo! – Há outros avanços nessa edição com relação a 2001?
Roberta Medina - Os banheiros viraram uma meta grande nossa em 2008, na edição portuguesa. Não queríamos mais trabalhar com banheiros químicos, que são pouco confortáveis e já vem com cheiro ruim antes mesmo de ser usado. Então a gente começou a ter instalação sanitária na Cidade do Rock e colocar aqueles contêineres que são como banheiros de verdade. A gente brinca que quer que, em alguns momentos, os banheiros virem até uma atração, com voluntários para indicar as filas, porque o que acontece normalmente é que as pessoas se concentram em algumas cabines e não usam as outras. Também haverá equipe de limpeza permanente e o espaço está todo pensado para que as pessoas que quiserem ir a bar, lanchonetes e banheiros, que são as necessidades básicas de um evento, não preciem andar mais do que 60 ou 80 metros.

Yahoo! – Quais cuidados estão sendo tomados com relação à segurança?
Roberta Medina – A operação de segurança terá cerca de 550 homens da Transegur, que é a segurança privada contratada para o Rock in Rio. Uma parte deles cuida do que é patrimonial, estruturas externas e palcos, já estão lá trabalhando hoje nas montagens e farão isso durante o evento. Depois você tem uma equipe de frente de palco. Tem equipe de intervenção, circulando pelo recinto para poder agir rapidamente caso haja princípio de distúrbio, porque alguém bebeu demais ou resolveu brigar. A gente tem uma série de torres altas para que a segurança seja com visibilidade do parque o tempo todo. Serão trinta e duas câmeras no parque e nas intermediações da Cidade do Rock, inclusive com infravermelho para poder detectar algum tipo de movimento na lagoa. A Marinha estará acompanhando o evento para caso precise fazer intervenção na lagoa. Todas as entidades públicas, Polícia Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil, também estarão envolvidas nessa grande operação. Para isso, nós teremos um centro de operações temporário conectado com as outras operações do Rio de Janeiro.

Yahoo! – Houve mudanças no tamanho da Cidade do Rock?
Roberta Medina – Mudou bastante, porque a Cidade do Rock antiga tinha 200 mil metros quadrados. Agora ela está com cerca de 130 mil metros quadrados. Inicialmente, era para ter 150 mil metros quadrados, mas, por proteção a algumas áreas ambientais, a gente foi reduzindo o tamanho do espaço. O público também é bastante menor do que em 2001, quando tinha capacidade para 250 mil pessoas. Naquela altura mesmo, graças a Deus, correu tudo bem, mas ficamos convencidos de que a gestão do público já é de uma responsabilidade tão grande, 250 mil por 200 metros de muro é muito (risos). Resolvemos, desde então, que não trabalharíamos com mais do que 150 mil pessoas por dia. Nessa edição, estamos trabalhando com 100 mil pessoas por dia, porque é a capacidade física do local.

Yahoo! – Tem alguma estimativa de consumo de comida?
Roberta Medina – Nós estamos preparados em termos de planejamento. Os principais operadores são Bob’s e Botequim Informal. O Bob’s é a operação que a gente acompanha mais de perto, com o cálculo de velocidade do atendimento, da variedade de produtos, dos preços, porque é ele quem garante a maior operação de alimentos e bebidas do evento. Claro que depois você tem a estrutura do Botequim Informal e muitas lojas e restaurantes pequenos, no Village e no Rock Street, que apóiam e complementam a operação. Ao todo, são 28 lojas no Village, e 20, no Rock Street. De alimentação, devem ser cerca de 15 lojas, fora os 7 bares de Bob’s e Botequim Informal.

Yahoo! – Como foi selecionado o line-up para essa edição?
Roberta Medina – Eu costumo dizer que é pouco romântica a seleção dos artistas, porque, desde 2004, trabalhamos com pesquisa de mercado. Então fazemos uma pesquisa com o público do país, e aqui foi uma pesquisa principalmente em Rio e São Paulo, com o Ibope. Daí sai uma relação dos artistas que o público mais quer ver e começamos a contratação dos preferidos e vamos abaixando na ordem de preferência, porque você tem que ter a disponibilidade do talento naquela noite e tem que ter alinhamento de perfil de músicos por dia. Então não necessariamente a gente consegue atender a todos os pedidos, mas, a partir do momento em que os ingressos são vendidos todos em quatro dias, daí abre um dia extra que também esgota, é a melhor resposta se o casting está valendo ou não.

Yahoo! – Em todas as edições, houve algum problema com relação à escalação. Em 1985, foi com Kid Abelha, Erasmo Carlos e Eduardo Dussek. Em 1991, foi com Lobão. E, em 2001, com o Carlinhos Brown. Vocês tomam cuidado na organização dos dias para evitar isso?
Roberta Medina – Na verdade, a gente tem essa preocupação mais acirrada desde 2001. A questão do Carlinhos Brow foi uma opção do próprio artista. Nós pedimos para ele não tocar naquele dia e ele quis tocar e dá depoimentos engraçados dizendo que foi ótimo, porque teve uma visibilidade gigantesca. Agora é claro que temos essa preocupação e nunca mais tivemos nenhum tipo de desconforto como esse.

Yahoo! – Inicialmente, a ideia era que o Rock in Rio só voltasse ao Brasil em 2014. Por que houve esse adiantamento?
Roberta Medina – A questão é que a economia brasileira cresceu e estabilizou muito mais rápido do que a gente poderia imaginar. O nosso planejamento era, sim, ir para mais outros países antes de voltar para cá. Acontece que houve um pedido do prefeito Eduardo Paes para a gente vir ao Rio de Janeiro de novo. É um momento muito especial que a cidade vive em termos de otimismo e de recuperação da auto-estima. Então a volta do Rock in Rio também é muito simbólica, porque é uma marca que os brasileiros, e principalmente os cariocas, sentem como deles. Então nós voltamos num período do ano diferente do que a gente costumava fazer, que era janeiro, e isso também foi um pedido do Eduardo Paes, porque setembro era um mês de baixa na ocupação hoteleira. Então a gente já está hoje com a previsão de 100% dos hotéis ocupados e a Riotur divulgou um impacto econômico de mais de 400 milhões de dólares na economia do Rio de Janeiro só com a realização dos sete dias de Rock in Rio, com 45% do público vindo de fora do estado do Rio de Janeiro. Agora a nossa previsão é fazer de dois em dois anos, como em Lisboa e Madri. Então seria em 2011, 2013, 2015 e espero que por muitos anos.

Yahoo! – Você acredita que o Rock in Rio inspirou a realização de outros festivais, como SWU e Planeta Terra?
Roberta Medina – Quero acreditar que sim, porque foi com essa intenção que o projeto Por Um Mundo Melhor nasceu em 2001. Não só para estimular o mercado de entretenimento, mas também o mercado como um todo a acreditar e apostar que marcas, produtos e projetos que tenham um valor social agregado tem a preferência do consumidor. Se todas as empresas privadas tivessem um pequeno projeto social próprio, a gente já estava numa sociedade muito mais harmônica e equilibrada. Eu não sei se você lembra que, em 2001, marketing social, que hoje é muito comum, não era muito usado. Nos Estados Unidos, já, mas no Brasil não. E era essa a nossa vontade, de fazer com que realmente virasse uma ferramenta assumida de comunicação, de valorização de marcas e produtos, mas que, ao mesmo tempo, estivesse dando alguma coisa a mais também para a sociedade.

Fonte:Yahoo - Guilherme BryanWed

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