A “poderosa” e a imprensa – Observatório
Luciano Martins Costa faz comentário no programa radiofônico do OI, postado no portal:
A informação [sobre o ranking da Forbes, que aponta a presidenta Dilma como a terceira mulher mais poderosa do mundo] foi divulgada com sobriedade nos telejornais da noite de quarta-feira (24/8) e repercutiu até os últimos noticiários, permanecendo discretamente nas páginas de imprensa na internet até a manhã de quinta, dia 25. Também está nos jornais de papel, embora sem chamadas de primeira página [correção; está no Globo, fora do título, e no Correio e no BE] (...)
Em 2009, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi cotado em 33º lugar na lista dos homens mais poderosos do mundo elaborada pela mesma Forbes, o destaque foi dividido com o agroempresário Blairo Maggi, listado na 62ª posição entre os 67 nomes.
Na ocasião, Lula foi considerado importante por governar “o maior produtor de alimentos do mundo, o maior exportador de açúcar, de suco de laranja, de café, de carne e de frango”, e por seu projeto de explorar as reservas de petróleo do pré-sal.
Maggi foi destaque por ter ajudado a transformar a soja no maior produto de exportação brasileiro, e no seu perfil aparecia ainda que foi acusado de desmatar a Amazônia mas conseguiu se redimir com um projeto de compensação financeira para agricultores que preservam a floresta.
No perfil da presidente Dilma Rousseff, a revista Forbes a apresenta como “a primeira mulher a liderar a maior potência econômica da América Latina”.
Dilma fica em posição de mais destaque do que outras chefes de Estado ou dirigentes de instituições importantes, como Sonia Gandhi, presidente do Partido do Congresso da Índia, que no ano passado era a segunda colocada e neste ano ficou em sétimo lugar; Christine Lagarde, diretora-presidente do FMI, em nono; e a presidente argentina Cristina Kirchner, 17ª colocada.
Analistas consultados por jornais brasileiros consideram que a posição de Dilma Rousseff reflete a importância que o Brasil assumiu no cenário mundial.
(...) o modo discreto como os jornais brasileiros publicaram a notícia reflete certo conservadorismo, como se a imprensa nacional ainda tivesse reservas com relação ao fato de ter uma mulher na presidência da República.
Pode parecer picuinha de observadores da imprensa, mas junte-se esse fato ao recente noticiário sobre as mudanças que a presidente vem fazendo em seu ministério e em cargos importantes do governo, no rastro das denúncias de corrupção, e pode-se suspeitar de certo paternalismo em relação à mulher que dirige o país.
A insistência com que os jornais procuram “empurrar” a chefe do governo para fora do seu núcleo partidário e, principalmente, para uma posição de confronto em relação ao seu antecessor e padrinho político, Lula da Silva, também deve ser levada em consideração.
(...)
Nas edições de quinta-feira (25/8), não dá para ignorar a frustração dos jornais com a declaração da presidente da República de que sua missão não é fazer faxina política, mas eliminar a miséria.
Ao participar de jantar festivo que lhe foi oferecido pelos próceres do PMDB, Dilma reafirmou a aliança que apoia seu governo e fez desandar de vez a corte que lhe faziam os jornais.
Os editoriais que se seguem não escondem o despeito pelo fato de que a presidente repudia a condição de “faxineira” que lhe pretendeu aplicar a imprensa – de resto, um dos ícones da condição feminina na sociedade brasileira.
A se observar, a partir desta data, o fim da lua de mel que lhe queria impor a imprensa.
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