Vistas para o mar e para a lagoa Rodrigo de Freitas despertam interesse dos visitantes

A aposentada Antonia Vieira Ferro, de 71 anos, nunca tinha pensado em alugar a laje da casa onde mora, que tem uma das vistas mais privilegiadas da favela da Rocinha, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, para o Réveillon. Do terraço, na localidade Laboriaux, a mais alta da comunidade, dá para ver toda a orla da zona sul, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a orla de São Conrado. Após a ocupação da polícia, dona Antonia mudou de ideia. Este ano, a laje estará disponível para os turistas.
- Eu nunca pensei em alugar antes, porque sempre passo o Réveillon aqui com a minha família. Como a vista é ótima, e as pessoas se sentem mais seguras de subir a comunidade agora, resolvi alugar este ano.
Para ver a queima de fogos da zona sul, do alto da casa da dona Antonia, cada visitante vai pagar entre R$ 10 e R$ 15. A família ainda vai definir o preço.
O vizinho da aposentada, Dirceu Nochelli, 30 anos, vai aproveitar os dotes culinários para ganhar um dinheiro extra no Réveillon. Ele, que trabalha como gastrônomo em um bistrô no Jardim Botânico, vai oferecer uma festa com buffet completo para dez pessoas na varanda de sua casa. O preço é alto, R$ 2.300 para todo o grupo, mas Nochelli garante uma ceia com comidas e bebidas de alta qualidade.
- Estou pensando em fazer um jantar fino, com entrada, ceia e café-da-manhã completo para estender até o final da tarde do dia 1º de janeiro. Quem passar o Réveillon na minha casa ficará responsável pelas dependências entre meio-dia do dia 31 de dezembro até as 17h do dia seguinte.
A rotina da virada do ano no Vidigal também será diferente este ano para alguns moradores. O pedreiro Marcio Daniel Pequeno, 27 anos, ainda nem terminou as obras da laje de sua casa, mas já colocou o espaço, que dá vista para a orla da zona sul, à disposição dos interessados. Ele mora na localidade Alto Vidigal, com vista para as Ilhas Cagarras e para as praias de Ipanema e Leblon. O pedreiro pretende cobrar R$ 15 por pessoa na virada.
- Eu ainda vou terminar o terraço, mas quem quiser passar o Réveillon aqui, pode vir. Vou aproveitar para ganhar mais uma graninha neste fim de ano. É uma ajuda.
- A minha esposa e eu criamos espaço para alugar para turistas e pessoas que queiram morar aqui no Alto Vidigal. Ainda não temos um terraço pronto, mas a vista é um show. A laje está disponível para alugar no Réveillon. No futuro, construiremos uma pousada.
Virada internacional
O australiano Paul Stevenson, 30 anos, está pensando em passar a virada do ano na Rocinha. Ele e o amigo Craig Clark ficaram encantados após visita à comunidade e já planejam reservar um lugarzinho em uma laje da favela.
- Nós estamos pensando em voltar para o Réveillon. A vista é muito bonita.
A inglesa Angela Tull, 27 anos, vai passar três meses no Rio de Janeiro. Ela está hospedada em um albergue, no Vidigal. A diversidade cultural do local atraiu a jovem, que decidiu passar o Réveillon na comunidade.
- Aqui é tudo muito legal, muito louco. Gostei. Vou passar o ano novo na favela.
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Das lajes do Vidigal é possível ver a queima de fogos em Copacabana (Foto: Evelyn Moraes / R7) |
O motorista particular José Sobreira dos Santos, 36 anos, costuma alugar o terraço da casa dele para festas na comunidade Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. Mas este será o primeiro ano que ele vai alugar o espaço para o Réveillon.
- Eu sempre alugo para festas. A vista é privilegiada. O meu terraço dá para Copacabana e Ipanema. Vou cobrar R$ 40 por pessoa com jantar e café da manhã. Quem quiser som, eu também posso providenciar.
O guia de turismo Thiago Firmino é dono de uma laje de 90 m² no morro Santa Marta, em Botafogo. Do Lajão Cultural, como é conhecido o local, dá para ver os fogos de Copacabana.
- Para o ano novo, o convite da festa deve variar entre R$ 30 e R$ 50. Ainda não decidimos, pois não definimos se será com buffet ou bebida liberada. Mas a festa está aberta para quem quiser vir, seja da comunidade ou da rua.
Ocupação pacífica
A favela da Rocinha foi ocupada no dia 13 de novembro pelas forças de segurança do Estado sem que nenhum tiro fosse disparado. Neste mesmo dia, também foram retomadas as favelas do Vidigal e da Chácara do Céu. Ao todo, 3.000 homens participaram da operação, que contou ainda com blindados da marinha. Em 2012, a Rocinha vai receber a 19ª UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Rio.
A ocupação das favelas colaborou para que o Disque-Denúncia (2253-1177) registrasse um recorde histórico de ligações. Segundo o coordenador do serviço, Zeca Borges, ao todo, foram 15.950 telefonemas somente no mês de novembro.
Desde o início da ocupação das favelas, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) se surpreendeu com a quantidade de denúncias feitas pela população. Além das informações por telefone, um grande número de bilhetes com agradecimentos chegou às mãos dos representantes da corporação.
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