Médicos sem Fronteiras suspende trabalho em Misrata enquanto ONU demonstra preocupação com prisioneiros e milícias
A organização Médicos sem Fronteiras anunciou nesta quinta-feira a suspensão de seus trabalhos na cidade de Misrata, na Líbia, após denunciar que prisioneiros estão sendo torturados e impedidos de receber tratamento médico urgente. O anúncio é feito em meio à crescente preocupação da Organização das Nações Unidas (ONU) com a situação dos presos e a atuação de milícias no país.
De acordo com a Médicos sem Fronteiras, pelo menos 115 pacientes tratados aparentavam ter sofrido tortura durante interrogatório. “As autoridades tentam explorar e impedir nosso trabalho”, disse o diretor-geral do grupo, Christopher Stoker.
“Os pacientes estão sendo trazidos no meio do interrogatório, para que possam receber tratamento e, assim, continuar sendo interrogados”, acrescentou. “Isso é inaceitável. Nosso trabalho não é tratar os mesmos feridos entre sessões de tortura.”
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, demonstrou preocupações similares ao dizer que as autoridades líbias estão permitindo um ambiente que contribui para a tortura e os maus-tratos de prisioneiros.
Segundo ela, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha visitou mais de 8,5 mil detentos em cerca de 60 prisões líbias de março a dezembro do ano passado para chegar a tal conclusão.
“A maioria dos prisioneiros é acusada de ser fiel a (Muamar) Kadafi (líder deposto do país, morto em outubro)”, afirmou Pillay. “Minha equipe tem recebido relatórios alarmantes sobre a situação nas prisões.”
Ela fez um apelo para que autoridades tomem o controle de prisões informais, revisem casos e lidem com os prisioneiros de acordo com a lei.
Na segunda-feira, confrontos deixaram pelo menos quatro mortos em Bani Walid, um antigo reduto de Kadafi. Na quarta-feira, o enviado da ONU à Líbia, Ian Martin, afirmou ao Conselho de Segurança da ONU, com sede em Nova York, que os choques aconteceram entre moradores armados da cidade e rebeldes que ajudaram a derrubar Kadafi.
Segundo Martin, o episódio, assim como outros episódios violentos em diferentes regiões do país, mostram como o novo governo líbio ainda tem o desafio de reconciliar a população. Ele acrescentou que a população ainda está fortemente armada e que as diferentes brigadas armadas não têm uma linha clara de comando e controle.
O ministro líbio da Defesa, Osama al-Juwali, disse na quarta-feira que a situação estava estável em Bani Walid. Um autoridade local afirmou à BBC que cerca de 90% da cidade é atualmente controlada por milícias.
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