... A gente não consegue tomar conta da gente ...
Autor: Wilson Santos de Andrade
Hoje é dia 12 de janeiro de 2012, e faz exatamente um ano que o Brasil, mais uma vez, chorou seus mortos em catástrofes de janeiro, essa que se abateu sobre a Região Serrana do Rio de Janeiro. Nos três municípios mais atingidos: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, cerca de 1000 vidas ceifadas e outros milhares de sonhos interrompidos. Do rico ao pobre, como aqui viemos, daqui partimos. As enchentes não selecionaram entre o barraco ou a mansão.
Toxtodos estavam no caminho das águas. Terá sido irresponsabilidade, falta de fiscalização, infortúnio, uma simples fatalidade? Não importa. Como diz a música, “... a gente não sabemos tomar conta da gente...”. Até quando?
São quase 10 mil pessoas ainda morando em áreas de risco, em residências condenadas pela Engenharia da Defesa Civil. E o que mudou? Aonde foram parar as solidárias e polpudas coletas de contribuições por meio de inúmeras contas bancárias abertas para o socorro às vítimas? E o dinheiro carimbado do Governo? Só para Nova Friburgo foram alocados R$ 10 milhões. Isso há quase um ano! A população dos três municípios, um ano depois, reclama da falta de obras. Os telejornais inundam nossa casa com imagens devastadoras, de novo!
Das 3.500 casas prometidas pelo governo do Estado, nenhuma foi entregue, um ano depois, assim disse um morador de Friburgo. Explicação do Governo, “As empreiteiras contatadas para realizar as obras não se interessaram pela parceria”! Que mal agradecidas!
Os prefeitos de Nova Friburgo e de Teresópolis foram afastados por malversação de verbas! Verba para devolver a dignidade do cidadão que durante décadas consolidou o seu lar e, numa noite só, perdeu o lar e os parentes! A propósito, alguém foi preso?
Oops, foi mal tocar nesse tema! Vamos ao ponto principal...
O que mudou é que Minas Gerais foi a “bola da vez” em 2012. Parece que alguém lá em cima anda de olho nos governos que não aplicam verbas para deslocar moradores de áreas de risco, replantar as matas ciliares dos rios que cortam a Região Sudeste, cuidar de replantio de mata nativa na modalidade correta, a curva de nível, bem mais eficaz do que a geometricamente correta.
Diferentemente do ano passado, as previsões de Chuva para este 12 de janeiro foram mais amenas para a região Serrana do Rio o que, todavia, não afasta o mínimo perigo de novos deslizamentos de encostas. A razão é a seguinte: O maciço em volta dos três municípios fluminenses ainda está bastante saturado, ou seja, com a umidade retida no solo já no limite de segurança. Isto quer dizer que, bastam uns poucos milímetros de precipitação a mais para tudo vir a baixo de novo.
Aí meus amigos, teremos cerca de 3000 residências ainda na rota de deslizamentos, no meio da passagem da lama que descerá dos morros. É o que constata a própria Defesa Civil do RJ. Oxalá fique assim... Sem mais precipitações!
Quanto a Belo Horizonte, faz décadas que os terrenos baratos são adquiridos pelas Empreiteiras, isso mesmo - a preço bem abaixo do normal. São terrenos “irregulares” do ponto de vista geológico. Um verdadeiro plano inclinado. Aí, fazem uma contenção meia boca abaixo do nível da rua, fincam algumas poucas estacas e levantam cinco, seis, até oito andares nos prédios destinados à classe média, que acha estar fazendo um excelente negócio, principalmente com a vista que “ganham” dos fundos do apartamento. Até quando?
É natural que a vista seja deslumbrante. Afinal, dá para ver o belo horizonte da capital mineira, durante boa parte do ano... Foi esse o apelo de marketing da Incorporadora. O barato sai caro! A verdade é que o prédio foi erigido sobre uma pirambeira! Mas, quando a chuva vem com vontade, entre os meses de outubro e março, e isso já provado - há mais de três séculos?! “Bom, aí é sentar e chorar”, como diz uma belíssima e competente professora de Processo Civil, Dra. Patrícia Camargo.
É simplesmente lamentável que, diferentemente do Japão, que aprendeu e apreendeu como se vive com terremotos e tsunamis, o Brasil ainda não desenvolveu tecnologia adequada a enchentes de verão. Ainda não conseguiu formar fiscais de posturas que embarguem obras em área de riscos, não importando se é o barraquinho do Nhô Juca na encosta, ou daquela Empreiteira que não colabora com obras solidárias no RJ! É, aquela mesmo, que ganha horrores de grana com Grandes Obras!
Afinal, alguém vai preso? Não é o caso! Vejam a equação, ou receita, como quiserem: O produtor rural cava uma barragem em sua fazenda para armazenar a água da chuva. Isso sem o menor critério técnico, ou seja, sem pagar engenheiro ou geólogo. No ano anterior foi uma seca terrível e ele perdeu a criação e a colheita. Para facilitar o acesso ao rio que passa em sua propriedade ele destrói a mata ciliar, outro erro que a natureza não perdoa.
O Fiscal da prefeitura local, ou do IBAMA, quando existe, e quando aparece, chega prá varanda e pita um de palha com o compadre, e fica tudo bão, né memo? Quando vem a chuva em excesso, ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), La Niña, ou El Niño, a barragem transborda e se rompe, inunda toda uma região e o que é pior, quem reside à jusante dos rios vai ficar sem casa, ou sem vida. E assim, “La vie s’en va”! Desde quando eu assisto isso? Deixa prá lá!
Só sei que isso é matemática pura e aplicada! E nem precisa ser Babalorixá para prever o que vem por aí em 2013: Vamos lá, fazer um pequeno exercício... De novembro deste ano a fevereiro de 2013 teremos grandes enchentes na Região Sudeste. Várias casas devem desabar, provavelmente em Salvador, Belo Horizonte, Interior de São Paulo, na Região Serrana e Baixada Fluminenses... Várias pontes cairão em Minas, Espírito Santo e no Interior do Rio de Janeiro!
Ainda nesse período, prestem atenção e anotem, uma favela queimará na cidade de São Paulo. É sempre na mesma época... Alguém lucra muito com a remoção dos escombros, da comunidade e a limpeza de um terreno muito valioso para as empreiteiras. Uma escola de samba também vai perder grande parte do seu acervo para o próximo carnaval, quase em cima da hora, por conta de um incêndio ainda sem explicações, dirão os jornais. É só esperar e conferir.
Lá no Haiti, outro local atingido pelo fatídico “12 de janeiro”, esse de 2010, as reformas ainda não ocorreram após o terremoto mais devastador da história daquele país. O Palácio do Governo ainda está em ruínas e a população foge aos milhares, inclusive para o Brasil. Mas no Haiti falta tudo, aqui não!
Infelizmente, não dá para pedir a prisão da quadrilha: ZCAS, La Niña e El Niño
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